Governo Alemão Financia Projecto de Reforço de Resposta à Crise Humanitária na Província de Cabo Delgado

Trata-se do projecto de promoção da coexistência pacífica, desenvolvimento da gestão local de risco de desastres e reforço dos meios de subsistência para pequenos agricultores (deslocados internos e as comunidades de acolhimento na província de Cabo Delgado).

Baptizado com o nome “Ukhaliherana”, uma expressão local que em português significa “ajuda mútua”, o projeto visa reforçar a resposta à crise humanitária na província de Cabo Delgado, através da assistência transitória de apoio dos meios de subsistência com vista a garantir meios de vida sustentáveis, reforçar a segurança alimentar, resiliência e equidade entre os deslocados internos e as comunidades de acolhimento.

O projecto está a ser implementado nos distritos de Montepuez e Metuge na província de Cabo Delgado, através de um consórcio constituído por quatro organizações, nomeadamente: ADRA Alemanha (organização líder do consórcio), ADRA Moçambique (Coordenação e parceiro de implementação), Fundação SEPPA, e o Conselho Islâmico de Moçambique, num horizonte temporal de quatro anos (novembro de 2022 – julho de 2026).

Enquanto a ADRA está focada na formação de pequenos agricultores locais em matérias de agricultura e pecuária, poupança e crédito rotativo (PCR), e redução de riscos e desastres (RRD); a Fundação SEPPA centra-se nas componentes de aquacultura, reflorestamento e gestão de recursos naturais, comités e mediação e distribuição de alimentos; e Por fim, o Conselho Islâmico ocupa-se com as actividades de desenvolvimento da coesão social e construção de paz nas comunidades abrangidas, nos distritos de Montepuez e Metuge, em Cabo Delgado.

Em entrevista com os beneficiários do projecto nos dois distritos abrangidos, os mesmos deixaram ficar os seus níveis de satisfação com as intervenções do projecto, embora as actividades deste tenham recentemente iniciado no final de novembro 2022, no entanto não deixaram de apontar os desafios por si encarados, propostas de solução, bem como suas expectativas em relação ao impacto do projecto nas suas comunidades.

Alcinda Monteiro, residente na comunidade de Nlucune, posto administrativo de Mieze, no distrito de Metuge, aponta que com as intervenções do projecto Ukhaliherana, a sua

comunidade tem observado mudanças significativas no que diz respeito a melhoria da dieta alimentar e destacou o seguinte:
“Agradeço bastante a este projecto porque há muita coisa boa que estamos a aprender. A nossa dieta alimentar melhorou significativamente. Hoje, eu sei preparar papas nutritivas com base nos produtos que produzimos das nossas machambas. Já sei preparar doce de abóbora para as nossas crianças, e isso nos tem ajudado no combate à desnutrição crónica. É certo que temos muita coisa em falta, tal é o caso do côco, mas a batata por exemplo, conseguimos produzir nas nossas machambas e ela é bastante nutritiva.” Enfatizou.

Paulino Alexandre, pequeno agricultor e beneficiário do projecto no distrito de Montepuez, refere que o projecto Ukhaliherana já está a alavancar a sua vida e destaca que: “uma das componentes que estão a melhorar a minha vida neste projecto é a componente de poupança e crédito. Quando poupo o meu dinheiro, tenho esperança de movimentá-lo. Eu sou agricultor, e quando necessito de insumos agrícolas tais como sementes, fertilizantes ou insecticidas, peço empréstimo no grupo, e quando chega a fase de colheita vendo os meus productos e faço a devolução do valor. Portanto, o projecto está a melhorar a minha vida.” disse

Embora em fase inicial de implementação, os beneficiários do projecto Ukhaliherana mostram-se bastante entusiasmados com o aumento da capacidade e o desejo de expansão é ainda maior.

Silvério Manuel, também camponês e beneficiário do projecto Ukhaliherana no distrito de Montepuez

, afirma que a pesar de as actividades de poupança e crédito rotativo (PCR) serem uma componente bastante sustentável, a falta de equipamentos e novas tecnologias para optimizar o cultivo tem sido uma das suas maiores barreiras como agricultor e pode impactar a próxima campanha agrícola.

“As actividades de poupança e crédito estão a ser muito benéficas para nós, entretanto, lamentamos a falta de equipamentos e novas tecnologias de produção mecanizada. Temos falta de material para produzir em larga escala. A nossa produção é em escalas muito reduzidas, que só serve para o nosso auto-sustento, e isso não nos permite crescer. Acreditamos que se tivéssemos motobombas e tratores, produziríamos em grandes escalas e poderíamos exportar os nossos productos.” Disse ansiosamente.

A aquacultura é uma das componentes desenvolvidas pela Fundação SEPPA ao longo deste projecto. Uma das estratégias desenhadas é a formação dos pescadores/as em matérias de aquacultura

de água doce; disponibilização de equipamentos de pesca adequados aos pescadores/as; e espera-se a participação activa destes em cooperativas organizadas e inclusivas, bem como participação em estruturas de governação.

Ao longo dos quatro anos de implementação, o projecto irá abranger 7.000 agregados familiares, dos quais 3.500 no distrito de Montepuez e 3.500 no distrito de Metuge, o equivalente a 35.000 beneficiários directos. Deste grupo 60% são mulheres.

Este projecto é financiado pelo governo Alemão, através do Ministério Federal da Cooperação Económica e Desenvolvimento (BMZ), com um orçamento de € 2,400.000 (dois milhões e quatrocentos mil euros).